terça-feira, 26 de junho de 2007

Sadismo como forma de amor



Análise das protagonistas nos filmes “Ondas do Destino”, “Dançando no Escuro” e “Dogville”, de Lars Von Trier

As mulheres nos filmes de Lars Von Trier são muito parecidas. Características comuns entre essas mulheres não faltam. Seria Lars Von Trier um louco que odeias as mulheres e por isso as fazem sofrer tanto em seus filmes? Ou apenas um diretor que consegue retratar a verdadeira realidade da mulher dentro da preconceituosa sociedade machista que nos cerca? Sofrimento é a palavra chave para descrever a personalidade dessas mulheres tão complexas.

O primeiro filme a ser analisado é “Ondas do Destino”, de 1996. Numa pequena comunidade do litoral da Escócia, profundamente reprimida por princípios religiosos, a jovem Bess, vivida pela atriz estreante Emily Watson se apaixona por um operário de uma plataforma petrolífera da região. Apesar de muitas resistências de ambos, os dois se casam. Mas logo nos primeiros dias de casados, seu marido sofre um acidente que o deixa imóvel e impedido de ter relações sexuais. Penalizado com a situação da mulher, ele pede a ela que faça sexo com outros homens e conte para ele os detalhes mais sórdidos. Acreditando que suas ações são guiadas pela vontade divina, Bess se entrega a um comportamento sexual que, ela imagina, fará com que seu marido se recupere.
Já o segundo é protagonizado pela cantora e “pseudo-atriz” Björk Guðmundsdóttir. Selma, interpretada por Björk é uma operária que está ficando cega por causa de uma doença hereditária. Angustiada em saber que seu filho também irá ter a doença, ela se entrega numa jornada de trabalho, sem descanso para poder conseguir o dinheiro para a cirurgia que curará a doença de seu filho. Sempre guiada por sua amiga, Kathy, vivida por Catherine Deneuve, sua única diversão é ir ao cinema e participar de ensaios de um grupo de teatro. Quando Selma menos espera, o dinheiro que ela guarda para a cirurgia de seu filho é roubado. É aí então, que ela se entrega a um sofrimento que poderia ser evitado, não fosse a traição de um dos seus “amigos”.

Como nos outros filmes do diretor, já citados anteriormente, a mulher é uma vítima de uma sociedade machista, marcada pela ganância dos homens. Passado nos Estados Unidos pós crise de 1929, perseguida por gângsteres. Durante a fuga, a jovem chega à cidadezinha de Dogville, no alto das montanhas rochosas. Ao chegar à cidade é mal recebida pelos moradores, mas aos poucos é aceita em troca de favores. A partir daí, Grace passa a trabalhar para cada uma das famílias do vilarejo, numa relação que com o tempo, se aproxima da escravidão. Em troca de proteção e de não ser entregues aos gângsteres, ela se sujeita ao tratamento desumano que é submetida.

Nos três filmes analisados, percebemos claramente semelhanças em todas as personagens. Percebo algumas semelhanças entre a situação das mulheres de Lars Von Trier e a descrição de Edgar Morin no livro Cultura de Massas do Século XX Necrose, para os ditos “heróis” nos filmes:

"Na universal e milenar tradição, o herói, redentor ou mártir, ainda redentor e mártir, fica sobre si, às vezes até a morte, a infelicidade e o sofrimento. Ele expia as faltas do outro, o pecado original e apazigua, com seu sacrifício, a maldição ou cólera do destino. A grande tradição precisa não só do castigo dos maus, mas também do sacrifício dos inocentes, puros e generosos" (Morin, 1975 p. 93)

A violência, tanto física, quanto moral e psicológica contra a mulher são muito exploradas nos três filmes, chegando ao extremo, ao limite em todos os três casos.: à loucura de Bess, no primeiro filme, “Ondas do Destino”, à morte de Selma, em “Dançando no Escuro” e ao ódio mortal, que resulta em vingança, de Grace, em “Dogville”.

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